"Estamos reinventando o futuro, somos fragmentos do futuro em gestação, e o que mais nós necessitamos é de um público co-produtor, partícipe da cena, que leve para casa as idéias que o Teatro sempre soube tão bem insuflar nos espíritos educados para que estes possam contribuir para as transformações necessárias que nossa sociedade tem urgência de ver realizadas"

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Trajetória em fragmentos - Parte 7.1

Fragmento do registro de processo de uma das atrizes:
Episódio 4: "ABC em um novo processo"


Este talvez seja o processo mais encantador dentre todos os que nós passamos, o momento de remontagem do espetáculo ABC em Processo. Do contrário, se este trabalho não fosse feito, nós que estávamos sedentos de mais conhecimento ficaríamos ociosos.
Mais uma vez o grupo Cena Aberta, age contra as forças de lei maior, enquanto a Universidade passa por uma greve nacional de professores, nós nos reuníamos todos os dias de segunda a sexta desde as 8 da manhã engajados na montagem de um texto de conteúdo político, que também trata da temática da memória na perspectiva dos vencidos bem como aborda assuntos como preconceito, alienação e educação. O que nos remete ao passado na fundação do grupo onde ocorre um movimento parecido:

“O germe do nascimento do grupo de pesquisa teatral Cena Aberta aconteceu por ocasião de uma greve de ocupação na UFMA, em 2001, em que foi remontado o experimento sociológico Victor e os Anjos, roteiro de Luiz Pazzini, realizado com discentes da Disciplina Oficina de Teatro, do Curso de Licenciatura em Educação Artística, Hab. em Artes Cênicas. Pesquisa de “material textual” presentes em A Missão (Lembranças de uma Revolução), de Heiner Müller, montagem de 1998, direção do autor, que resultou em uma monografia e uma dissertação de mestrado, e do experimento acadêmico da Habilitação, uma monografia. Desta forma, iniciou-se a prática de se registrar o processo criador do grupo.” (Prof. Mestre Luiz Pazzini)

Pois o Cena Aberta sempre esteve na contra mão, através de seu símbolo maior representado pelo professor Ms. Luiz Pazzini, que sempre se propõe a utilizar o teatro como instrumento de reação a ordem estabelecida por aqueles que exercem o poder. E com isso consegue provocar aqueles que nos assistem e acompanham nossa trajetória:

"Estamos reinventando o futuro, somos fragmentos do futuro em gestação, e o que mais nós necessitamos é de um público co-produtor, partícipe da cena, que leve para casa as idéias que o Teatro sempre soube tão bem insuflar nos espíritos educados para que estes possam contribuir para as transformações necessárias que nossa sociedade tem urgência de ver realizadas" (Grupo Cena Aberta)

Então na ânsia de conseguirmos levar com mais eficácia os ideais propostos pelo texto de Aldo Leite, que apesar de ser uma sátira tem conteúdo denso, aprofundamos nossos trabalhos de consciência corporal através do método de dinâmicas do movimento projetado por Rodolf Laban com as instruções do professor Dr. Ulisses Ferraz.
Este método utilizado como ferramenta pré-expressiva, já em exercício na construção da cena do Anjo Infeliz, insere-se no trabalho de construção dos corpos dos personagens as "dinâmicas do movimento" nas cenas do texto com inúmeras aplicações através de exercícios propostos pelo preparador corporal e aliado com os laboratórios de interpretação do texto com as orientações do Mestre Pazzini.
 Durante essa prática nos transformamos em uma família, cuidando da nossa casa, o Espaço Cultural Ângelus Novus, que nos serviu de berço para nossas ideias, onde tudo germinou e ganhou força e forma é este espaço que nos deu proteção, o local onde preparávamos nossa comida, levávamos nossos corpos a exaustão, recebíamos nossos parceiros, discutíamos sobre nossas relações e construímos um mundo que corre paralelamente a este que estamos acostumados, individual e racionalista, nós construímos nossas próprias bases alicerçados em uma relação de coletividade, ajudando uns aos outros em prol de um objetivo comum, comunicar através da arte.
Deste modo praticamos o fazer teatral de maneira profunda educando uns aos outros, sem uso do autoritarismo, através de um método de compreensão dos processos internos e pessoais, preocupando-se com o outro e construindo projetos para o futuro.  Foi desta maneira que o espetáculo “ABC em processo” ganhou nova forma.

                                                                                                                 Texto: Lígia da Cruz





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