Levei Ilse para o Rio de Janeiro com Lulu, de lá fui para o interior de São Paulo, deixei Lulu voltar para o Maranhão e fiquei cuidando da adolescente. Pela primeira vez me apresentei para um público essencialmente jovem, por três vezes tive um público com mais de 70 adolescentes de duas escolas estaduais da região onde fica minha cidade natal Mogi Guaçu.
Em tempos de substituição, trocando o real pelo virtual, é
difícil saber em que condições o teatro é capaz de atingir e causar efeito à
juventude atual, ainda mais sabendo que estes garotos provavelmente nunca
estiveram dentro de uma sala de teatro, e estão demasiadamente acostumados com
o discurso superficial e catártico da televisão, principalmente a brasileira.
Apesar de estar apreensiva tive resposta positiva em todas
as apresentações, descobrindo o público adequado para “Onde está Ilse?”. A
temática, pertinente e o texto de fácil compreensão imergem os adolescentes no
universo de Ilse que com astral e uma pitada
de sedução revirando: sentimentos, angústias e dúvidas que estão reprimidos
pelos falsos discursos de moral, excesso de pudor e a indispensável, e tão
comum, hipocrisia.
Apresentei-me na rua e lá tive a possibilidade de colher
depoimento de familiares, fotos feitas pelo meu próprio irmão e ainda
proporcionar que um grupo de rapazes, uns marmanjões que provavelmente nunca
entrariam em uma sala de teatro, pudessem entrar em um universo paralelo ao seu
durante vinte minutos, e no final (pela minha falta de atenção me machuquei em
cacos de vidro) escuto de um deles “Meu Deus! Não entendo nada desse tal
teatro, mas sei que gostei, a atriz até deu
o sangue!
Aproximamos-nos do público pelo discurso, o Cena Aberta
sempre tem resposta imediata porque as pessoas se identificam com os temas
tratados e conseguem interpretar o signos mesmo que o texto seja complexo, como
na performance do Anjo Infeliz, logo veem que estamos falando delas, com elas.
A preocupação do discurso. O que está sendo dito? E por quê?
Não acredito que dispensar de tanto tempo de ensaios e dedicação possam ser
simplesmente baseados na forma, para construir um produto vendável, essa não é a
única escolha e o único caminho do artista sobreviver,
talvez esteja na hora de descermos do muro e assumirmos um posicionamento.
Sempre me pergunto: Quanto tempo leva para seu discurso se
transformar em ação?
Nós levamos a Ilse para abrir I Semana Científica do curso de Teatro licenciatura, organizada pelo C.A. do curso para recepção dos novos calouros, e percebi que a passagem por São Paulo fez a cena tomar vigor.E para completar, amanhã eu e Mestre Pazzini estamos com o pé na estrada, vamos levar Ilse e Lulu para as terras quentes de Caxias – MA, fomos convidados para nos apresentar na I Mostra SESC Caxias de Teatro, nossa apresentação acontecerá no dia 23 de Abril.
TEXTO: Lígia d'Cruz
FOTOS: Lucas Américo, com edição de Lígia d'Cruz
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